O governo federal anunciou na sua
lista de metas para os cem primeiros dias de governo a regulamentação do ensino
domiciliar por meio de medida provisória, assim, os pais passarão a ter a opção
de serem responsáveis diretamente pela educação dos seus filhos, dispensando a
obrigatoriedade da escola e de profissionais formados em licenciatura.
Tal decisão se soma a outros
ataques que o governo federal e seus apoiadores políticos fazem em relação a
educação e a seus profissionais. Porém, tal medida vai além, pois pode trazer
danos concretos para crianças, expondo-as a vários riscos e gerando sequelas
para suas vidas.
Tida cada vez mais pelo
senso-comum como um espaço de vilania ocupado por “comunistas”, é recorrente os
discursos de que ela precisa ser urgentemente reformulada a fim de garantir uma
“neutralidade” no ensino. Dessa forma, ignoram que ela emerge como uma
instituição essencial para a constituição do indivíduo, da mesma forma como
emerge para a evolução da sociedade e da própria humanidade. É na escola que a
criança aprende os saberes científicos básicos, desenvolve a coordenação motora
e se socializa, aprendendo que há o outro além do eu. Tudo isso sob a supervisão
de profissionais preparados. Também é no ambiente escolar que a criança
participa de campanhas sobre drogas, sexualidades, abusos, preservação do meio
ambiente e combate as discriminações. Há casos noticiados de criança que só
soube que era molestada sexualmente por meio da escola, pois, não sabia que o
que sofria em casa era errado. Também há inúmeros outros de maus tratos que são
percebidos pelos professores, os quais alertam as autoridades competentes.
Devemos também destacar quando a criança apresenta uma necessidade especial,
lembrando que há pais que se negam a reconhecer que seu filho possa ter tais
necessidades.
Com o fim da obrigatoriedade de a
criança frequentar uma escola, ela estará refém de seus responsáveis. Sua
educação poderá ficar apenas no básico, sem explorar suas capacidades ou mesmo
ser orientada para uma área de conhecimento específica que seus pais sonham que
se forme e siga carreira. Outro problema será a dificuldade de se observar práticas
de violência contra o menor, o que impedirá a sua proteção por parte das
autoridades competentes.
É obvio que não pretendo aqui
generalizar, pincelando os pais como seres vis ou mesmo dentro da visão de
Platão de que as crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para um
acampamento, uma vez que o filósofo considerava corruptora a influência dos
mais velhos. Mas, temos que levar em conta que pessoas que não valorizam o
ensino feito na escola de forma comunitária, tendem a serem egoístas ou
superprotetores ao ponto de observar perigo para o filho onde não existe,
privando-os de experiências interpessoais e socializante. Outro ponto que deve
ser considerado é quando há abuso, seja físico, psicológico ou mesmo sexual.
Essa triste realidade é constantemente descoberta por professores que observam
comportamentos suspeitos e denunciam os abusadores.
Definitivamente, um fantasma ronda nossas crianças, o da ignorância pedagógica!
Prof. Fábio José de Oliveira
@FiloProfessor