quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Coisas que acontecem de repente!


Poxa, é isso mesmo? Hoje faz um mês que sofri acidente? Eita, que coisa!


Fico a lembrar que não faz muito tempo eu estava praticamente sem bússola em meio a uma tormenta que fragmentava meu ser. Comigo, apenas a companhia da minha angústia e solidão.


De repente, eis que estou deitado em minha cama e vejo pela tela do meu celular, numa rede social, uma sugestão de uma pessoa que fez parte do meu passado e de quem eu não tinha notícias há anos. Sei lá a razão, mas aceitei a sugestão e ela aceitou logo em seguida. 


“Oi, tudo bem?”, “como vai?”, “há quanto tempo?”, “o que tem feito” e coisas do tipo foram trocadas em mensagem. Nada de mais. Daí vem as lembranças, um momento aqui e outro alí e o papo flui. Por um breve instante me esqueci das dores em mim. Foi bom, descontraído e, de certa forma, revigorante. Foi assim que tudo começou.


Um dia ou outro, uma nova mensagem. Coisas banais. Daí a ideia de nos vermos e papear pessoalmente. Daí a conversa fluiu muito mais. Daí houve sorrisos e até gargalhadas. Daí me permitir ser feliz naquele instante. A dor sempre vinha depois, mas valia apenas enquanto durava.


Não sei a razão, pelo menos na época não. Hoje desconfio. Só sei que foi numa terça feira à tarde, após eu sair do trabalho e ir para casa de moto e debaixo de sol a castigar até camelo. Ela me veio à cabeça. Lembrei que disse que fazia faculdade, a segunda já, e que ia de ônibus. Eita! Sei bem que são duas horas no transporte público lotado, sem conforto ou ventilação digna. Vim pensando em como seria desconfortável para ela. resolvi mandar mensagem me oferecendo para uma carona (na verdade a mensagem estava no imperativo) e ela disse “ok”, lhe espero. 


O caminho foi bem tranquilo, pois não tínhamos pressa. Foi então que fomos pegos, literalmente, de surpresa por um carro que quase nos esmagou no guard rail. Quase, ele apenas nos derrubou e nos fez sermos arrastados por alguns metros. Vem socorro, vamos para o hospital e depois para a casa dela. No meio disso tudo foi feito o boletim de ocorrência e nele constava que eu estava com minha “namorada” na garupa. Oi? Nada disso, era apenas uma amiga.


Eu estava até bem embora machucado, mas ela ralou bastante e precisava de cuidados. Fiquei na casa dela para ajudar. Não era dor na consciência, era apenas uma preocupação com alguém que eu tinha como especial para mim naquele momento e a ideia de que se tratava de algo que eu podia fazer para ajudar outra pessoa.  O duro era explicar que eu estava na casa de uma amiga para cuidar dela pois sofremos um acidente juntos. As pessoas sempre vinham com um sorrisinho acompanhado do “amiga, sei!”. 


Nos dias que se seguiram conversamos bastante, falamos sobre assuntos interessantes, em comum, aleatórios, escatológicos e afins. Assistimos TV, ouvimos música e rimos muito, às vezes riamos das nossas dores ao trocarmos os curativos, de uma piada sem graça ou quando simplesmente quando havia uma troca de olhares. 


Não sei quando aconteceu. Não ouvi sinos ou harpas dos anjos, não soube de nenhuma estrela cadente ser vista ou de uma estrela brilhar em um raro fenômeno astronômico. Apenas aconteceu. 


Sou um homem feliz por ter ao meu lado uma pessoa que é amiga, companheira, atenciosa, carinhosa, autêntica e que me transmite uma paz. Não sei o que o futuro nos reserva, mas não me importo, pois minha sede de viver é do momento presente.


Prof. Fábio José, o Filó!