Por Helio Silva/Paulo Milet | Rota dos Concursos/Eschola –
21/11/2012 17:11:00
Os erros gramaticais e de interpretação
são responsáveis pela maioria das reprovações em concursos públicos. Parece
bobagem, mas a fragilidade do conhecimento formal da língua portuguesa está
prejudicando milhares de concurseiros. Na era da informação e da internet,
saber se comunicar não é suficiente para vencer uma prova de português em um
concurso público.
“A internet bagunçou totalmente! Não se observa mais a
concordância verbal. Em uma frase, a pessoa é tratada como ‘tu’, mas o verbo é
conjugado como se fosse ‘você’. Eu costumo dizer que o concurso não pode ser
uma prova ‘auditiva’, o candidato não pode ‘ir pelo ouvido’, porque o mundo
virtual destruiu a língua portuguesa!”
A avaliação é de uma apaixonada pela
língua: a professora Beatriz Margarida Backes, a Bia, que trabalha há muitos
anos na área de concursos. Somente no Curso Vigor, do qual é diretora, são 35
anos de atuação, em Porto Alegre. Ela também trabalhou em duas bancas
examinadoras – a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(FAURGS) e a Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH) -,
quando esteve do “outro lado” da história, na produção das provas.
Beatriz tem autoridade para falar do assunto, especialmente depois
que os concursos públicos passam a dar ainda mais importância para a prova de
português. Um exemplo é a seleção para o cargo de técnico judiciário do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ocorrida em setembro. A avaliação
teve 70 questões objetivas, sendo 26 de português. A responsabilidade do
candidato aumentou, já que as questões sobre a disciplina representaram 37% do
total dos pontos e tem caráter eliminatório e classificatório. O aumento do
peso da língua portuguesa nos concursos é uma tendência, conforme explica a
professora: “atualmente muitos concursos tem colocado português como
classificatório e eliminatório. Mas a importância dele vai muito além: se o
concurso prevê questões de raciocínio lógico, é preciso ter um bom português
para entender os enunciados. Na própria legislação, uma colocação pronominal ou
uma vírgula deslocada podem mudar tudo”.
O professor Andresan Machado, que dá aulas no curso CETEC e
trabalha na preparação para concursos públicos há dez anos, reforça a
necessidade de o candidato atentar ao idioma: “o nível das provas está cada vez
mais elevado. Dependendo da banca, o candidato precisa acertar de 80% a 90% das
questões para estar entre os primeiros a serem nomeados. O mínimo não vale
mais”, comenta.
O estudante Alexandre Kickhöfel, 38 anos, se prepara há um ano e
meio para concursos públicos e reconhece a importância da disciplina:
“português exige dedicação, mas, para mim, há outras matérias mais difíceis”,
diz o concurseiro, que pensa que é a matemática que impõe maior dificuldade nas
provas de concursos públicos. Já para a tecnóloga em fruticultura Bibiana
Galarza, 24 anos, o português é a disciplina mais difícil. “A matemática é
exata; no português, é preciso prestar atenção ao contexto”, diz. A estudante
lembra que as provas exigem concentração do candidato, que deve analisar as
palavras destacadas pela banca examinadora dentro do texto – “elas podem
assumir diferentes funções, dependendo do contexto em que forem empregadas”.
Para vencer as dificuldades com a disciplina, Bibiana relata que, além de
frequentar aulas presenciais, procura outras abordagens assistindo vídeo aulas
na internet.
De acordo com levantamento realizado nos dados do banco de
questões e simulados online da empresa Rota dos Concursos, com mais de 500.000
questões, interpretação de texto e a morfologia são os tópicos mais exigidos
pelas bancas examinadoras. Nas provas do Centro de Seleção e Promoção de
Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB), 45,8% dos tópicos exigem
interpretação dos textos, já nas avaliações da Escola da Administração
Fazendária (Esaf), este assunto representa 28,3% dos itens.
Para garantir a vaga no serviço público, o professor Andresan
Machado recomenda que o candidato faça um curso específico da matéria, além de
realizar muitos exercícios. O professor relata a procura crescente pelos
cursos de resolução de questões, que são uma boa oportunidade para que o aluno
exercite o conhecimento e também se familiarize com a linguagem das
organizadoras, garantindo a compreensão dos enunciados das questões:
“percebemos que muitas vezes o aluno sabe a matéria, mas não entende o
enunciado”, alerta. A professora Beatriz concorda: “conhecer o mecanismo da banca é
importantíssimo. O candidato que se habilitar a fazer uma prova e não fizer
muito exercício pode ser comparado a alguém que pensa em correr, mas fica só na
teoria, no pensamento”, completa. A professora destaca ainda que a postura
correta do candidato é o preparo a longo prazo. “Hoje um módulo de seis meses
em português, com aulas uma vez por semana, pode chegar a sete, oito meses,
dependendo da necessidade do grupo. A resposta é muito positiva. No mínimo, os
alunos levam uma nova noção da importância do português”, diz.
A professora reforça que o concurseiro não deve ter pressa e dá a
sua dica para aqueles que almejam uma vaga no serviço público: “concurseiro tem
que ter escolha, firmeza, persistência e humildade. Esse é o caminho para
chegar lá!”
Disponível em: http://br.educacao.yahoo.net/conteudo.aspx?titulo=Portugu%C3%AAs+se+torna+o+vil%C3%A3o+dos+concursos+p%C3%BAblicos, acessado em 22 de novembro de 2012.