terça-feira, 24 de março de 2020

Atividade sobre a Semana de Arte Moderna de 1922


1 – O que foi a Semana de Arte Moderna de 1922?

2 – Observe a foto dos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922 e descreva quem é cada um.

3 – Explique a relação da Semana de Arte Moderna de 1922 com a elite cafeeira paulista.

4 – Por qual razão a Semana de Arte Moderna de 1922 é considerada um divisor na história artística e cultural brasileira?

5 – Leia o texto abaixo:


Imoral censura: o que se pode, ou não pode ver no museu
Devagar, lentamente, começaram a surgir indícios. Esparsos e irrelevantes, não ligámos. Continuaram, tornaram-se mais frequentes e preocupantes, ficou impossível não lhes darmos importância.
Quando, em 2011, o Museum of Fine Arts, em Boston, realizou a exposição “Degas and the nude”, em colaboração com o Musée d’Orsay, o escândalo estalou, face às representações do nu académico lado a lado com os “brothel monotypes”, estimulando um pendor voyeurista, curioso do universo íntimo, algo decadente, das prostitutas e dançarinas que enchem as telas de Degas. Pensámos que seria algo circunscrito à sociedade americana, tradicionalista e conservadora, que aproveitava para trazer à tona as acusações de antissemitismo e as suspeições em relação à vida celibatária do pintor.
Desde essa altura, vão surgindo manifestações contra a exposição do corpo e a sua utilização/representação na arte. As redes sociais vieram dar uma nova dimensão a esta questão; em particular, o Facebook tem vindo a aplicar algoritmos para análise do conteúdo das imagens e identificar os nus, para os censurar, eliminando-os e bloqueando a pessoa que os disponibilizou.
Tal como após o Renascimento, as disposições vieram impor o decoro, também agora, depois de a juventude da década de 1960 ter reivindicado a liberdade de assumir o corpo em todas as dimensões da sua fisicalidade e de, na década de 1990, a arte ter sido deliberadamente provocadora, vemos aparecer uma nova mentalidade com dificuldade em aceitar coisas que há muito (muito antes de 1960) eram tidas como normais. Como diz Jonathan Jones (2018, 31 jan.), jornalista e crítico de arte no The Guardian: “Now the tables have turned, and it’s cool to be appalled by – in this case – art made over a century ago. I can’t pretend to respect such authoritarianism. It is the just the spectre of an oppressive past wearing new clothes”.

Em novembro de 2017, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), inaugurou a exposição “Histórias da Sexualidade”, aguardada com maior expetativa (e polémica!) depois de em setembro a exposição “Queermuseu: Cartografias da diferença na arte brasileira”, apresentada no espaço Santander Cultural, em Porto Alegre, e abordando questões de género e de diversidade sexual, ter sido cancelada por alegadas ameaças à família brasileira e na sequência de uma onde de ataques desencadeados nas redes sociais. Em São Paulo, o MASP primeiro, anunciou a interdição da exposição a menores de 18 anos, acabando por rever esta posição e permitir a entrada de crianças e adolescentes, na condição (!) de se fazerem acompanhados pelos respetivos pais ou responsáveis.
Em dezembro, quando o movimento #MeToo e o escândalo do abuso e violência sexual exercidos sobre as mulheres de Hollywood ganhava impacto em todo o mundo, o Metropolitan Musuem of Art, em Nova Yorque, foi alvo de uma petição para retirar a pintura Thérèse Dreaming (1938), de Balthus (Balthasar Klossowski), sob a denúncia de o museu promover uma perturbadora visão romântica sobre a sexualização infantil e incitar a coisificação das crianças. Balthus, conhecido precisamente pela forma como captou o universo adolescente nas suas pinturas, retrata, nesta pintura, uma menina Thérèse Blanchard, com cerca de 12 ou 13 anos, sentada numa cadeira, com os braços erguidos sobre a cabeça e uma perna levantada, deixando ver a roupa interior. Na realidade, em 2013, o MET tinha organizado a exposição “Balthus: Cats and Girls: Paintings and Provocations”, à entrada da qual pôs o seguinte aviso: “Some of the paintings in this exhibition may be disturbing to some visitors,’ using this to argue that the Met ‘understand[s] the implications of displaying his art as a part of their permanent collection.” (cfr. Elkin, 2017, 19 dez.) A petição obteve quase 9000 assinaturas em menos de uma semana, mas não conseguiu obrigar o museu a retirar a obra.
O mesmo puritanismo alcança a “civilizada” e liberal Europa. No âmbito das comemorações do Fin-de-siècle Vienna (vd. Schorske, 2012), foram organizadas exposições sobre a obra do pintor austríaco Egon Schiele, mas a Grã-Bretanha e a Alemanha recusaram a respetiva campanha publicitária alegando tratar-se de uma obra pornográfica e não ser ético expor a nudez integral em espaços públicos; em contrapartida, decidiram colocar uma banda a cobrir os genitais das figuras, com a #ToArtItsFreedom e a frase “Sorry, 100 years old but still too daring today”. Norbert Kettner, chefe do WienTourismus (serviços do turismo vienense), esclareceu esta opção: “We want to show people just how far ahead of their time Vienna and its protagonists really were […] And also encourage the audience to scrutinize how much really has — or hasn’t — changed in terms of openness and attitudes in society over the times.” (cit. in Bradley, 2017, 10 nov.)
Em finais de janeiro passado, a Manchester Art Gallery retirou do espaço expositivo a pintura Hylas and the Nymphs (Hilas e as Ninfas), do pintor pré-Rafaelista John William Waterhouse e datada de 1896, na qual um grupo de mulheres jovens, nuas, mas submersas num lago de nenúfares, procura seduzir um homem que se encontra na magem. Embora o afastamento da pintura parecesse tratar-se de uma resposta ao movimento #MeToo, Clare Gannaway, curadora da galeria de arte contemporânea rejeita as acusações de censura, afirmando tratar-se de um projeto-experimental desenvolvido por Sonia Boyce, o qual visa criar o debate em torno da obra de arte e cujos resultados serão expostos em março:
It wasn’t about denying the existence of particular artworks. […] For me personally, there is a sense of embarrassment that we haven’t dealt with it sooner. Our attention has been elsewhere … we’ve collectively forgotten to look at this space and think about it properly. We want to do something about it now because we have forgotten about it for so long. (Gannaway, cit. in Brown, 2018, 31 jan.)
Embora em finais de janeiro ainda não fosse certo o regresso da pintura ao espaço expositivo – “We think it probably will return, yes, but hopefully contextualised quite differently” (Id., ibid.) – certo é que já se encontra novamente em exposição. Mas, a polémica, essa, não terminou, entre os que receiam estarmos perante um perigoso precedente de pintura em museus e os que defendem a necessidade de iniciar um debate sério acerca da presença da massiva representação da mulher, ou do nu feminino, na arte ocidental, em confronto com a quase ausência de artistas-mulheres nos museus.
A questão é válida e pertinente. O que não invalida a perversidade de estar a ser usada como argumento para justificar um ato de censura, tendo subjacente a arrogância e prepotência de quem pode decidir o discurso museológico e se atribui o direito de escolher aquilo que cada um de nós deve ver.
Disponível: https://amusearte.hypotheses.org/2174; em 24/3/20.

- Assista ao vídeo sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.



- Elabora uma DISSERTAÇÃO sobre o seguinte tema: “A importância da arte para a sociedade e as razões dela causar revoltas ao questionar os valores sociais”.


Prof. Fábio José
@FiloProfessor