quarta-feira, 26 de junho de 2013

Trabalho em grupo: dilema ou aprendizado?

     Assim que o professor anuncia que a tarefa será feita em grupo, a reclamação coletiva se inicia: “Não dá para fazer sozinho?”, questionam os alunos. Sem paciência para lidar com as diferenças e as opiniões do outro, grande parte dos estudantes tenta fugir do desafio de trabalhar com colegas, o que coloca em risco o cultivo de habilidades que serão importantes no futuro, como o respeito ao próximo, a responsabilidade e a troca de ideias. “Tão importante quanto aprender com as aulas é descobrir como se relacionar em grupo”, diz Silvia M. Gasparian Colello, educadora e professora de psicologia da educação da Faculdade de Educação da USP. “Quando você junta crianças ou jovens, dá vazão para uma nova via de aprendizagem; eles são convidados a dividir o conhecimento e a colocar em prática a autonomia.” Segundo ela, a vida escolar não pode ser solitária e isso em qualquer fase de ensino, do fundamental ao superior. “O outro é sempre um espelho e te ensina como pensar de forma diferente.”

     Para a especialista, o professor tem um papel crucial nesse processo. “Ele deve mediar os trabalhos feitos em grupo, saber dividir bem as funções de cada um e fomentar a discussão. Não basta só passar a tarefa e ficar sentando corrigindo provas. Se ele conhece sua turma, vai saber como agrupá-la melhor e fazê-la ganhar com isso.”


Muito além do método
     Uma instituição de ensino que adota o sistema dos trabalhos em conjunto é o Colégio Albert Sabin, em Osasco, Região Metropolitana de São Paulo. “Nós pensamos o espaço da escola como uma espécie de treinamento para a vida em sociedade, por isso valorizamos essa ferramenta pedagógica”, conta Laércio da Costa Carrer, coordenador do ensino fundamental II.

     Para ele, atuar em grupo tira o aluno do conforto. “Cabe ao professor tentar evitar as panelinhas, intervindo sempre que necessário e, principalmente, não deixar que os alunos dispersem, percam o foco.”

     A falta de organização é uma das reclamações da aluna Giovanna Mazzuli Marcelino, que tem 14 anos, cursa o 1º ano do ensino médio no Albert Sabin e não aprova tarefas com os colegas. “Sempre tem alguém da turma que não se empenha, não respeita horário. Prefiro fazer sozinha.” No entanto, Yasmin Calbo de Medeiros, também de 14 anos e estudante do 9º ano do ensino fundamental, acha muito válido fazer as tarefas em conjunto. “É uma oportunidade para aprender com as contribuições dos outros e, se você divide corretamente, ninguém fica sobrecarregado”, diz.


Planejar e partilhar
     “Saber trabalhar em equipe é uma exigência da maior parte das profissões”, lembra o consultor educacional e doutor em linguagem e educação pela USP, José Luís Landeira. “Acredito que o professor pode encontrar inspiração nisso para construir diferentes estruturas de trabalho em grupo dentro do âmbito escolar.”


WANISE MARTINEZ
METRO SÃO PAULO

METO. Caderno Educação, p. 18. Campinas, 26 de junho de 2013.

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