O pior dos
atos é o ato de negar o ato, o não ato. Logo, se trata da negação do ato em si.
É a atitude de não se ter atitude perante a realidade que nos confronta; o não
dizer o que deveria ser tido, o desejo de proferir palavras, mas se calar; o
desejar e não agir para se satisfazer, negar o que se quer.
Assim, não
somos quem realmente somos, não há coerência entre nossa essência e nossas
ações. Rumamos a uma frustração, a uma angustia que coroe o nosso ser,
corrompendo a nossa alma, destruindo aos pouco quem somos até haver apenas uma
casca vazia, um corpo sem alma.
Sem alma não é
possível a existência! Pois alma, cuja etimologia deriva do termo latino animu (ou anima), que significa "o
que anima", é fonte da vida de cada organismo, é o ato que define os seres
vivos, é o que anima, move, faz agir, assim, é o seu princípio e o fim. Observando
os seres viventes, Aristóteles percebeu três singularidades que compõe a alma: nutrição, desejo e intelecto. O primeiro está
presente em todos os seres, os pertencentes ao reino vegetal, assim como o dos
fungos, possuem apenas ele. Já o segundo é próprio dos animais não racionais,
sejam eles um reles artrópode ou um grande paquiderme, pois estes buscam se
saciar, seja para alimentação, seja para reprodução, seja proteção, seja lá
para o que for, é o desejo que os move, que os anima, logo, é a sua alma,
junto, é claro, com a necessidade de nutrição. Já a terceira é própria dos
animais racionais, o que significa que é a nossa característica, o que nos
move, afinal, não só fazemos parte desta categoria como somos a única espécie que
habita esta esfera a possuir tal capacidade. Assim, somos seres capazes de
pensar e por isto somos capazes de tomarmos decisões, de sermos autônomos
perante o outro no que se refere as ideias. Dessa forma, nossa alma nos conduz
para além das necessidades básicas, nos leva a agir de forma livre.
Ao agirmos
livremente, agimos humanamente, afinal, somos as únicas criaturas deste planeta
a gozar de liberdade. Um animal não racional age por instinto, levado pela sua
alma que lhe conduz a satisfação dos seus desejos. Ser livre é uma atitude
racional, de tomar decisão diante de um mundo ao qual o ser está inserido.
Assim, nós,
seres racionais, nos construímos a partir de cada decisão que tomamos.
Edificamos a nossa essência a cada ato, aprendemos a ser com cada erro. Somos a
somo dos nossos erros, acertos, dúvidas... somos o que construímos em cada ato
feito.
Por outro
lado, nos deixar a mercê do outro, não pensar por si só, negar o ato de pensar,
negar nossa autonomia e mergulharmos numa heteronomia, é na sua essência a
morte, afinal, nos remete ao não ato! A negação de quem somos.
Prof. Fábio José de Oliveira
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