sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

JUSTIÇA X ÉTICA I



Dia após dia somos presenteados, num sentido grego para troiano, com notícias sobre um crime de corrupção que vem a público. Já é tanto que temos até dificuldade de diferencia-los. Tal deputado roubou a Petrobras ou a merenda? O senador meteu a mão onde?

O mar de corrupção parece sem fim nas terras tupiniquins. Não creio que seja esse um fator novo ou que nunca na história desse país foi tanta. O que creio é que nunca antes foi tão investigado e nem houve tantos interesses particulares em denunciar, nem sempre pela justiça, mas também para atender algum objetivo próprio, seja eleitoral, seja ideológico, seja qual for.

 Sem dúvida a corrupção é o nosso maior mal social, fonte da falta de investimento em áreas sociais e de infraestrutura que flagelam a população e impedem investimentos. Ela deve ser combatida e superada. Mas, a qual preço? Será válido uma busca cega pela justiça?  Os fins realmente justificarão os meios usados? O fim alcançado será realmente o idealizado depois de se usar meios tórridos? No ecoar da população parece que sim!

Surge daí, para essa pessoa que escreve, um dilema entre justiça e ética. Palavras que para muitos podem ser semelhantes, mas não são. A justiça entendida num sentido legal, é aquele ato que está de acordo com a lei, com o que está escrito. Já a ética são valores que nos orientam em fazer o que é justo, independente do código legal em vigor. O sentimento de impunidade perante os acusados é geral. Há o entendimento de que no Brasil não se pune pessoas socialmente poderosas. Daí que o sentimento de frustração, raiva, revolta e afins afloram um clamor por justiça baseado não na razão e sim nos sentimentos e na doxa.  O que temos então é o acompanhar de cada caso investigado ou julgado como um espetáculo, onde o público fica ansioso para o próximo ato, uma partida de futebol no qual as pessoas possuem um lado para torcer.         


O espetáculo é enriquecido pelos atores: políticos, pessoas públicas que deveriam zelar pelo bem comum, apelam para questões legais para se safarem, sem se preocuparem com o mérito da questão em si e juízes e procuradores que incorporam os líderes romanos nos espetáculos circense e buscam sentenciar de acordo com a vontade popular. Todos com uma coisa em comum, as nossas leis complexas, contraditórias, arcaicas e até despregadas da realidade. As leis de um Estado possuem a finalidade de organiza-lo, garantindo direitos aos seus habitantes ao mesmo tempo que impõe suas obrigações, punindo quem não contribui para a ordem acordada. Mas na terra da jabuticaba sua complexidade, oriunda de uma realidade pós ditadura na qual as mães da nossa carta magna se preocupavam com os direitos, sobretudo o da liberdade de pessoas que lutaram, muitas vezes até com derramamento de sangue, pelo bem comum e que é complementada hoje por congressistas que atuam pelos próprios interesses, distantes da realidade do povo, gerou um emaranhado jurídico, uma burocracia obesa que agrada advogados, procuradores e juízes pelas suas brechas. Assim, de modo legal, temos impunidades e injustiças, mas apenas do ponto de vista ético. 

Prof. Fábio José
Filó

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Diário de sala de aula - Episódio 6

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O ano letivo tem início e o ânimo dos alunos é revigorante para o educador. Este ser que passou os dias que antecederam o início da sua jornada quixotesca pela educação a lamentar, não o fim de suas férias, mas o início de tormentas, humilhações, desprezo e um trabalho de Sísifo de jogar pérolas aos porcos.

Parece que tudo é surpresa para eles, até mesmo o velho professor que ali está, diante deles, a iniciar a mesma conversa de anos anteriores sobre regras e compromissos. Ficam em silêncio respeitoso. Ouvem atentos cada palavra. A esperança é de que assim sejam para os dias vindouros.

  Não sei se o árduo trabalho me fez um pessimista ou se minha racionalidade me puxa para a triste realidade, só sei que com o tempo vem o cansaço, que traz o desanimo, a sensação de inutilidade de ser um semeador na praia.
                
   O que me faz lutar ainda é que um dia eu tive um sonho de um sonhador, de que eu seria um professor, um encantador de pessoas, um demiurgo que as conduziria para uma construção do seu ser no que há de mais belo na nossa espécie, o humano!

   Assim como um padeiro deseja assar pães cujo o cheiro encanta as pessoas ou o poeta quer compor versos que inspirem gerações; um professo tem o desejo de ver aflorar em seus alunos o melhor de si e é este desejo que traz força para a luta diária.

Prof. Fábio José;
Filó!