Como uma proposta de plano político traz a tona uma mentalidade classista
Ciro Gomes, candidato à
presidência da república do PDT (12), anunciou que em seu projeto de governo
consta uma proposta para limpar o nome dos devedores do SPC (Serviço de
Proteção ao Crédito), o qual foi batizado de “Programa Nome Limpo”. Sem muita discussão
sobre o assunto, houve inúmeros ataques ao presidenciável devido a sua
proposta.
Aqueles que são contra alegam que
não é função ou obrigação do governo de arcar com uma dívida que não é sua,
pior, foi feita por pessoas de péssima índole, verdadeiros estelionatários que
não querem pagar pelo que adquiriram. Alguns até chegam a admitir que há
pessoas de bem que se endividaram devido a dificuldades inesperadas, mas que
isto não justifica serem ajudados. É o “cada macaco no seu galho”. O argumento
é válido, pois não é responsabilidade do governo pagar tais dívidas, mas é sim
responsabilidade dele de criar políticas públicas que visam o bem social e o
desenvolvimento econômico e é neste contexto que a proposta de Ciro Gomes se
insere, pois, o projeto tem o objetivo de reintroduzir na economia brasileira
mais de 63 milhões de pessoas que hoje estão com seu nome restrito para
obtenção de crédito.
Ao contrário do que se apela
pelas redes sociais, a proposta não implica no governo gastar dinheiro público
para ajudar quem é desonesto ou irresponsável. Ela prevê que as empresas cobrem
o valor devido, sem o acréscimo de multa ou até mesmo juros, o que pode gerar
uma redução de até 70% do valor devido. Bancos públicos e privados que queiram
aderir ao programa, quitam a dívida por meio de um empréstimo que pode ser pago
em até 36 meses e um grupo de devedores assuma a dívida de uma pessoa que venha
a aderir ao programa de refinanciamento e eventualmente não pague as parcelas.
Assim, o governo federal organizará os devedores em grupos de 5 ou 10 pessoas
em um sistema chamado "aval solidário", onde os membros do grupo
serão responsáveis pelo pagamento casa alguém desse mesmo grupo venha a não
honrar sua parte.
É muito interessante observarmos
o quanto ainda temos a velha mentalidade de que no Brasil as classes sociais
possuem papéis predestinados e uma mudança nisto é, portanto, um ato absurdo. Assim,
ao pobre nada, pois não é digno, ao rico tudo, pois é seu direito natural. Como
assim? Não está a entender nada do que afirmo? Simples, o governo federal vai
perdoar este ano de 2018 do nosso Senhor nada mais do que R$62 bilhões em dívidas
de grandes empresas, além de deixar de arrecadar devido os benefícios fiscais,
todo ano é o mesmo, mas ninguém reclama, pelo contrário, todos clamam que é
necessário para o bem do país, que o Estado tem que proteger as empresas e os
empresários para que possam continuar a gerarem a riqueza do Brasil. Porém, o
contrário não se aplica. Já o Zé, o Pedro, o João, a Maria, a Ana e tantos
outros que se endividaram por ficarem desempregados ou terem o custo de vida
encarecido devido à alta de preços não são vistos como os mesmos olhos
benevolentes e sim como um bando de caloteiros.
Prof. Fábio José de Oliveira
@FiloProfessor
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