O artigo 205 da Constituição Federal de 1988 nos diz que
" a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho". Infelizmente, na prática isso não se aplica. Já
é notório para o mais energúmeno dos seres do gênero homo o descaso dos nossos governantes com a educação pública, os
quais entendem investimento como gasto e que dados estatísticos, principalmente
os contábeis, são superiores as propostas pedagógicas.
Por muito tempo isso não foi um grande problema social devido
a luta de educadores que, contanto com o apoio da família do aluno, tinha
liberdade em atuar na formação acadêmica da criança ou jovem, sempre, é claro, obedecendo
a base curricular nacional. Ninguém questionava o que o aluno deveria ou não
aprender ou a forma que ele aprendia. Todos sabiam que os professores
proporcionariam uma edificação para um futuro cheio de possibilidades. Daí
tivemos inúmeros casos de pessoas que após concluírem o Ensino Médio (antigo
colegial) ingressaram em cursos técnicos ou universitários, garantindo uma boa
estabilidade financeira e social.
Porém, um desvio ocorreu nos últimos anos. Pais (aqui se entende
por família, uma vez que incluem avós, tias, tios, madrinhas, padrinhos e tudo
o mais que possa ser responsável pelo pequeno ser humano) não sabem olhar para
seus filhos e dizer NÃO! Têm medo! Temem ser rejeitados por se sentirem
incompetentes (embora neguem) no seu papel, temem a reação violenta (choro,
bater pé, gritar, dizer que os odeiam, se atirar no chão etc.) por não serem
atendidos, temem vê-los tristes e se culparem por isto ou apenas temem conviver
com alguém triste, como se fosse uma ameaça a sua felicidade. O resultado é que
seus filhos passaram a ser edificados como uma pessoa que não possui parâmetros
éticos, que pensa que tudo pode, que não admite ser contrariada, mesmo se
tratando de um ambiente de trabalho, que se enfurece perante aquele que ousa
não se curvar perante a sua suprema vontade. Toda essa indolência paterna e
materna distanciou a família dos valores de uma escola, substituindo cobrança e
orientação por um acolhimento desmedido das birras de seus rebentos, o que
ocasiona um comprometimento na atuação dos educadores.
Precisamos entender de uma vez por todas que a educação
escolar não se resume em ofertar passivamente os conteúdos. Ela é uma
instituição que proporciona saberes e que busca fomentar o raciocínio lógico, a
reflexão crítica, o despertar do senso ético e a aplicar os valores morais.
Tudo é feito dentro de um planejamento pedagógico em que cada ato possuí uma
intenção. Assim, uma regra não é escatológica, tem um objetivo a ser alcançado,
é o subir da escada onde cada degrau tem a sua importância.
Nessa incompreensão do trabalho do professor, temos que os
senhores responsáveis simplesmente querem que a mesma indolência que eles
possuem perante seus filhos seja exercida pela escola e seus profissionais. Não
querem que suas crias sejam punidas quando erram e consideram que se não
aprendem a culpa é do professor que não sabe ensinar. Tem até os que negam que
a criança possa ter uma necessidade especial, por mais óbvia que seja.
Questionam os métodos de ensino quando estão diante de notas baixas, querem
provar (sabe lá como) que é falho. Estufam o peito nas reuniões e falam sobre
educação como se fossem catedráticos em pedagogia ou educação, mesmo sem
possuírem noção alguma. Chegam até a praticar o ataque preventivo, fuzilam o
professor antes que este possa criticar a cria deles. Com os tribunais de
exceção que se formam nos WhatsApp, coitado do professor, nem sabe ao certo de
onde vem o ataque. Para piorar, as gestões escolares, sejam elas públicas ou
privadas, acatam muitas vezes esses mimos. As públicas por imposição de
superiores que se camuflam em uma pesada burocracia e só se preocupam com índices
e redução de custo e as particulares por temerem perder um cliente. O que temos
é que pedem para o professor ignorar uma regra, fingir que não viu o aluno
“colando”, que receba um trabalho fora do prazo de entrega ou que não esteja de
acordo com o que foi exigido, que considere que o responsável pelo aluno é
“chato” e evite problemas. Enfim, simplesmente desprezam a capacidade deste
profissional. O trabalho é todo desestabilizado e o aprendizado comprometido.
Inegavelmente estamos diante do
romper da última barreira que pode garantir uma educação significativa para a
formação humana em terra tupiniquim: o Professor.
Prof. Fábio José
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