terça-feira, 13 de novembro de 2018

Cenas brasileiras - parte 12



Fico a imaginar a sociedade Tupiniquim, a mesma que elevou as notícias falsas, ou melhor, as "Fake News", a categoria de fonte incontestável da verdade universal e imutável e de grande e iluminada sabedoria humana, convivendo num contexto onde o aluno possui o direito de filmar seus professores.

“Quem não deve não teme” bradam os apoiadores da esdrúxula proposta, mas, tal argumento é falacioso. Afinal, tivemos uma eleição brindada com reportagens falsa, mentiras pregadas como verdade, distorções dos fatos e da realidade, ao ponto de circular vídeos com péssimas montagens, dignos de um trabalho de Ed Wood, que foram levados a sério, numa afronta a inteligência humana. Assim, um trabalho de edição ou uma cena fora do seu contexto será mais que suficiente a mentira se tornar uma falsa verdade que seja conveniente a alguém ou grupo. O que teremos é uma caça às bruxas contra os educadores da nossa pátria. Eles serão condenados como Sócrates um dia foi em Atenas, acusados de “corromperem” a mente dos jovens.

Temo que esse futuro distópico seja cada dia um presente sombrio. Temo pelo dia que terei medo de dizer o que faço, no que exerço o meu ofício ou que tenha que ter um repertório de desculpas quando tiver que dizer. Temo que ao andar pelas ruas eu fique apreensivo que alguém me reconheça e me agrida.

Paranoia? Depois de ver um vídeo de um aluno que pretendeu filmar seu professor sem autorização e dirigiu a ele com ironias e provocações, de um deputado federal fazer gesto de arma com a mão contra um professor durante um debate público, enquanto um outro, que é filho do presidente eleito e o mais bem votado da História, rindo da cena, além de tantos outros ataques nas redes sociais, chego a infeliz conclusão que a cada dia é apenas a terrível realidade.

Mais um episódio da nossa sociedade boçal, incoerente e hipócrita!

Prof. Fábio José

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