quinta-feira, 9 de março de 2017

Sobre baboseiras e liberdade

Sem nada para fazer, fico enérgico no meu sofá cujo o estofado já se tornou um molde de minha bela forma física. Com meus belos e esverdeados olhos contemplo as teias de aranha no teto até que em minha mente ocorre um turbilhão de ideias sobre o que li no jornal que encontrei na lixeira do vizinho e fico a refletir sobre a atitude dos membros da Comissão de Constituição e Justiça do nosso senado em tornarem lei a união entre pessoas do mesmo sexo, um ato até banal uma vez que, por decisão da nossa suprema corte, já ser reconhecido em razão de que nossa sociedade é, pelo menos por lei, justa, dando a todos os mesmos direitos.

Uma reação raivosa já pode ser ouvida oriunda do congresso, como a de um bugrino perante um pontepretanto ao sofrer uma goleada. Em ambos os casos, por mais banal que seja o fato, a reação é sempre desproporcional e violenta, um ato de impulso selvagem e negação do racional.

Incrível! O tempo passa e o intelecto regressa!

Sempre os mesmos e velhos argumentos. Imutáveis! O que muda é sempre o rosnar, cada vez mais ameaçador, mostrando os dentes a salivar. Isso quanto já não mordem.

“Não é natural”, bradam! Como se o ser humano fosse natural. Vivemos num mundo criado por nós, um mundo humano. Abandonamos a natureza desde que passamos a usar ferramentas para facilitar o nosso trabalho, superando nossas limitações animais. Um cachorro não faz escola para ser cachorro, mas nós sim. Temos que passar por um processo educacional para formarmos o nosso ser, nos tornarmos humanos. Um cachorro também não tem sonhos, não fica a pensar se quer ser um cão de guarda ou um cachorro de madame, mas nós sim, sonhamos e nos preocupamos com o que seremos no futuro. Um cachorro deita e dorme, já nós construímos casa e a arrumamos do nosso jeito, cheia de significados. Um cachorro não se preocupa se seu pelo está bem aparado, se precisa passar condicionador ou com que roupa sairá, porém nós gastamos dinheiro com cabeleireiro, gel, shampoo e perdemos horas decidindo como queremos o nosso cabelo e com que roupa iremos sair. Um cachorro late e nós desenvolvemos a fala e como ela compomos poemas, músicas e óperas, escrevemos livros, cartas de amor, cobrança e nos comunicamos de forma complexa. Logo, o que é natural em nós? Vivemos num mundo não natural, em um que nós criamos e o qual moldamos e somos moldados.

Além do mais, o que é mais natural do que um animal selvagem vivendo no seu meio ambiente, livre a interferência do ser humano? Pois é, mesmo nessa situação há animais que praticam sexo entre seu semelhante sexual, transam com um outro da sua espécie e do mesmo sexo. Chocante? Não! Natural. Tio Google está aí para quem desejar confirmar.

“Mas nós não somos animais, somos racionais! ” Errado e certo. Errado por nós sermos animais, pois pertencemos ao reino animal e não dos vegetais e nem dos minerais. Certo por sermos racionais, embora alguns parecem negar tal fato. Afinal, o que há de racional em sentir atração por alguém? Não escolhemos por quem nos apaixonar, simplesmente acontece. Buft! Num simples olhar e lá estamos nós, babando por alguém, nossa alma gêmea, a metade da laranja, a razão de viver. Daí se junta o bonito com o feio, o novo com o velho, o gordo com o magro, o delicado com o bronco. Só não o rico com o pobre, neste caso tal fenômeno só ocorre quando a parte rica é oposta a pobre, sendo ela sempre a feia, velha, gorda e bronca. O se apaixonar é espontâneo, assim como o ato sexual é prazeroso. O que há de racional em virar os olhos, morder os lábios e gemer? Fazemos por prazer, é um ato que exige os nossos sentidos e não a nossa razão.

“Dois iguais não se reproduzem! ” Verdade, mas podem adotar aquilo que dois diferentes geraram e dispensaram. Considerando tal argumento como válido, temos que aplica-lo como regra geral, o que significa que todos aqueles que se unem ou apenas trazem devem se reproduzir. Logo, não podemos aceitar que dois diferentes se casem ou vão morar juntos se não forem ter filhos. Assim, temos que submeter os seres apaixonados e diferentes a um teste de fertilidade antes de juntarem os trapos. Não adianta ficar duro ou úmido se a semente é seca. Há também a questão dos preservativos, se o sexo é para fim reprodutivo, eles não deveriam ser considerados um crime e proibidos?

Fazemos sexo pelo prazer, pelo fato de ser gostoso, a reprodução é uma consequência. Logo, não há um argumento que sustente que o fato de dois iguais não se reproduzirem como um impedimento de se unirem.
“Nascemos homem ou mulher, se fosse para sermos diferentes haveria outra opção”!  Opção? Então temos a capacidade de escolhermos o que queremos ser, como fica se um homem escolhe ser mulher e vice-versa? Nesse caso não pode haver opção? Que raios de opção é essa em que só podemos escolher o que nos é imposto? Parece uma lógica de mãe, que manda a gente escolher entre duas roupas que ele escolheu ou entre uma surra e a obediência plena. Não é uma questão de escolha e sim de ser o que é, seguir seus instintos e desejos.

“Nascemos homem ou mulher e devemos ser o que nascemos para ser”! Na verdade não nascemos homem ou mulher, nascemos macho ou fêmea, seres definidos pela biologia. Ser homem ou ser mulher são ideias construídas por nós. O que é natural é imutável por si só na sua essência, já a ideia, por ser fruto do ser humano, muda, é moldada de acordo com o meio ambiente e se transforma com o tempo. Quem nunca escutou alguém mais velho dizer: no meu tempo isso não era coisa de homem!; No meu tempo mulher não fazia essas coisas! Tem cabelo cumprido, é homem ou mulher? Faz as unhas, é homem ou mulher? Chora, é romântico, é homem ou mulher?

A ideia é construída por nós, reproduzimos o que vemos e seguimos a doutrinação que temos na infância, aquela que nos faz entrar numa loja de brinquedos e ver que há próprios para as meninas e meninos. Em geral para as meninas os brinquedos remetem aos cuidados da casa (eletrodomésticos), da família (bebes que comem, mamam e que temos que trocar a frauda) ou consigo mesma, no sentido de que sempre devem estar bonitas para o homem (e lá estão as Barbie e Polly). Quando vamos comprar para um menino já é diferente, tem a nossa disposição brinquedos que remetem a força (esporte, como bola), bélico (armas), riqueza e ostentação (carrinhos). A criança passa toda infância a brincar de forma orientada, então não é novidade que ela passe a reproduzir isso quando adulta e até mesmo considerar normal, não por ser, mas sim por estar acostumada.   

Sim, pode contestar o que digo. Não há problema. O pensar se constrói no diálogo, mesmo quando estamos sozinhos conversamos conosco mesmo. Mas antes se dedique a pensar num bebezinho, antes de aprender a brincar de forma orientada. Ele vai brincar com qualquer coisa, os meus brincaram com latas de conserva, panelas, controle remoto, cabo de vassoura e qualquer objeto que lhe chamasse atenção. Um menino pode sim brincar com uma boneca e vai, a menos que você retire da sua mão dizendo “menino não brinca de boneca”. Pensou sobre isso? Agora pense: o que é ser homem? O que é ser mulher? Caso consiga criar uma definição, compare-a com a de outra pessoa e venha me contar se chegou a uma definição válida.

“Deus condena o homossexual”.  Na verdade a condenação é contra o homossexualismo, a prática e não contra a pessoa. Mas não importa, a questão é que se trata de uma visão que se fecha numa determinada crença. Logo, como fica quem não a segue? Quem não crê nela? As religiões exigem crenças e estas são pessoais, só valem para o indivíduo que crê. Como então impor algo particular de uma pessoa para a outra? É o mesmo que eu amar minha mãe e impor para alguém que também a ame. Para mim tem significado, para o outro não faz o menor sentido.

Sem contarmos que a crença cristã tem mais ramificações que um velho pinheiro, com cada uma dizendo que está certo. Como nos basear em algo tão incoerente e particular para criarmos uma regra universal para a sociedade?

Cada um deve seguir firme na sua crença, se ela condena a relação entre pessoas do mesmo sexo, um conselho do tio aqui, não faça sexo com quem tem o mesmo sexo que você! Pregar que é contra? Claro que pode, vivemos numa democracia! Agora, querer se meter na virada de olhos do vizinho já demais.

“Com a aprovação do casamento gay as igrejas serão obrigadas a aceitarem, pois podem ser acusadas de discriminação” KKKKKKKKKKK!!! Quanta asneira! No Brasil a liberdade de culto é garantida na nossa Magna Carta. Você não é obrigado a se ajoelhar para esse ou aquele deus, a ter essa ou aquela crença. Uma pessoa que vai numa igreja que não permite a união entre pessoas do mesmo sexo, não pode exigir que ela realize tal união. As religiões são constituídas de pessoas, as quais tem liberdade de culto, logo, cada religião tem liberdade de formar a sua crença. Quando você escolhe uma tem que ver as regras primeiro e procurar a que melhor lhe agrada.

“É coisa da minoria gay”! E daí que se trata de uma minoria? Por acaso vivemos numa ditadura da maioria? Por acaso onde há uma maioria de mulheres o homem deve urinar sentado? Democracia é respeitar o diferente. Não se trata de impor a vontade de poucos sobre os demais. Isso é uma tremenda falácia. Com a união homoafetiva ninguém será obrigado a se casar com outra do mesmo sexo. Também não haverá o risco de alguém terminar o casamento hétero  para se casar num homoafetivo. Com ou sem lei pessoas do mesmo sexo transam, namoram e moram juntas, não é por haver o reconhecimento legal que teremos vários arrependidos por aí.
“Vão querer adotar e a criança ficará confusa e passará por constrangimento”. Olhemos a nossa volta. Que família contemplamos? Hoje as famílias são formadas por pessoas divorciadas que se casam novamente, de filhos que são criados por padrasto ou madrasta, irmãos de pai ou mão diferente, mãe ou pais solteiros, netos cuja a avó ou o avô são referência de paternidade. Isso quando não há o abandono ou o desprezo em casa.

O que realmente importa para uma família é o amor ou a aparência? Muitos casos de pedofilia são praticados por um pai com seu filho ou filha. Por qual razão então não demonizamos essa estrutura familiar? Não fazemos por ser exceção e não regra. Todos sabemos e concordamos que numa família deve imperar o amor fraterno entre seus membros e por qual razão homossexuais não são capazes disto?

Fico a ver muitos alunos que precisam de um acompanhamento psicológico por problemas familiares e imagino quantos me passam desapercebidos. Mas para algumas pessoas apenas um filho de um homossexual precisará disso.

Quanto ao constrangimento, bullying ocorre a muito tempo de várias formas e sobre os mais diversos motivos, daí a necessidade de um trabalho educacional e de conscientização.

Enfim, na minha opinião cada um deve ser feliz como é! Seguir seus desejos, buscar sua plenitude sem se importar em ser o que o outro deseja que seja.

Não podemos impor nossa vontade para outro, já que não queremos e nem aceitaremos que o outro faça o mesmo conosco.

Cada um que cuide do próprio rabo!

Prof. Fábio José

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