domingo, 7 de junho de 2020

Cenas Brasileiras - Parte 14


Na minha juventude, meus colegas de escola não se interessavam por política. Faziam cara feia ou viravam os olhos num sinal claro de desprezo quanto eu tentava tratar sobre qualquer assunto nesse sentido. Eu era o chato ou o nerd que só queria falar assuntos difíceis. Mas, tive amigos que compartilhavam dos mesmos gostos peculiares que os meus e os debates avançavam a noite, seja no quarto ou na sala de um de nós, seja numa praça pública ao relento da noite. Tudo sempre bem acompanhado de vinho barato, cerveja e batata frita.

Como professor busquei despertar em meus alunos o interesse pela política, mostrar que decisões tomadas pelos nossos representantes tinham um impacto direto sobre nós no curto, no médio ou no longo prazo. Que enquanto cidadãos tínhamos que exercer o nosso papel de animal político como bem definiu Aristóteles. Trazia jornal para a sala de aula, mas eles não liam. Citava reportagens que passavam na TV, mas eles não assistiam. Então, entusiasmadamente eu contava sobre os acontecimentos, montava gráficos para evidenciar as relações entre os acontecimentos e como tudo aquilo impactaria em nós. Salve poucas exceções, um verdadeiro ato de jogar pérolas aos porcos.

Hoje parece que está diferente. Os jovens discutem política, publicam em sua páginas nas redes sociais temas de relevância social, militam politicamente. Mas, apenas parece que estão politizados. O que ocorre é que, com o advento das redes sociais e o fácil acesso a internet, a informação se tornou abundante e, como tal ocorre com um produto, passou a ser um objeto de consumo e, assim, passou a se adaptar ao seu público. Deste modo, deixou de ser detalhada, sempre vinha com uma imagem pata melhor ilustrar, o texto era cada vez menos e por fim foi carregada de subjetividade para agradar seu consumidor, digo, leitor. 

Não demorou muito para que os fatos fossem relevados a uma mera interpretação pessoal, transformando a ideia de versão numa paródia onde não existe reflexão, rigor lógico e nem coerência com a realidade. Assim a mera opinião se tornou verdade sem critério algum. 

O que temos hoje são pessoas, principalmente os jovens que buscam estarem ligados no mundo para parecerem descolados e que discutem temas sérios a fim de que sejam levados a sérios, consumindo informações subjetivas, isto quando não ficam apenas na manchete e interpretam a informação, dispensando a leitura. Daí o que se tem é a falsa ideia que nunca antes se discutiu tanto sobre política ou se interessou por ela. Mas, na verdade o que temos é que nunca antes tivemos tanta informação de fácil compreensão, adaptada aos nossos gostos (mesmo que exprimem mentiras para isto) e de fácil propagação.

Mais um episódio da nossa sociedade boçal, incoerente e hipócrita!

Prof. Fábio José
@FiloProfessor
#filoprofessor

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