sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Diário de sala de aula - episódio 4

 

Dá o horário e lá vai o educador em sua rotina de Sísifo. Entra na sala, coloca seu material sobre a mesa, apaga a lousa (pelo menos este é o correto de acordo com a didática e a realidade, pois os alunos simplesmente saem da sala na troca de aula e este ato se torna um tempo para o retorno deles sem o professor ter que ficar na porta chamando-os). Há também a possibilidade de não ter apagador, fato que o obriga a ir em sala em sala procurar um ou mandar um aluno, a exemplo de Moises se sua bomba branca em busca de um lugar seco. Então o mestre se senta na cadeira junto a mesa e inicia a chamada.

Uns fazem a chamada pronunciando o número do aluno na sala de aula, os de inglês dizem os números em inglês com o intuito deles aprenderem a contar em inglês. Mas sempre há os que apenas decorram quem responde antes dele para saber hora de dizer “presente” sem ter que decorar bulhufas nenhuma em inglês.  Eu prefiro fazer a chamada dizendo o nome de cada um. Considero, na minha opinião e não julgando quem faz, que trocar um nome por um número é massificar o aluno, relevá-lo ao status de coisa e não de alguém. Afinal, um nome não é apenas uma palavra, um substantivo próprio. Ele remete a quem a pessoa é, sua história e autenticidade. Um por um vou chamando-os, anotando quem está presente com um “c” de compareceu e quem está ausente com um “f” de faltou.

Mas – oh dura e cruel realidade – vem o aluno e avacalha com tudo. A criatura, durante a minha humanística chamada:

1 – Há o que quer responder por todos, diz quem está presente e ausente, me atrapalhando, pois tenho ter certeza, além de ser responsabilidade do aluno de prestar atenção e responder.

2 – Há o que fica concentrado até responder, depois se põe a conversar, atrapalhando os demais a me ouvirem chamar o nome.

3 – Há o que deixa passar e depois responde e ainda vai até perto de mim conferir se ficou com presença, verificando que está com falta, fica a reclamar, alegando que respondeu e eu é quem deixou de registrar. E como diabos ele sabia que eu não ouvi? Incrível, prefere criar uma teoria da conspiração de um professor que quer dar falta a admitir que não teve responsabilidade de prestar atenção.


Prof. Fábio José

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