terça-feira, 7 de novembro de 2017

Cenas brasileiras - parte 7


Vira e mexe e questões como cotas sociais e direitos às minorias são postas em destaque nos ataques de pessoas que os consideram privilégios e não justiça.

O apelo é de que a demonocracia garante igualdade para todos, logo, se alguém não conseguiu o que almeja a culpa é apenas dela que não teve vontade. Nesse pensamento, as oportunidades são preenchidas pelo critério da meritocracia.

Porém, como se mede o mérito de alguém numa sociedade em que desigualdade é gritante? Sociedade onde não há uma política pública que visa uma educação de qualidade e os pobres possuem dificuldades no acesso a justiça. Os serviços públicos são precários, possibilitando a humilhante morte nas portas dos hospitais ou mesmo nos seus corredores, além das horas perdidas num transporte público lotado. Como podemos saber até quando é a vontade da pessoa e quando são as barreiras impostas pela sua condição que lhe impedem o crescimento social?

Segundos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2015, a população que se identifica como preta ou parda cresceu entre a parcela 1% mais rica da população brasileira, cuja renda média é de R$ 11,6 mil por habitante. Contudo, os dados divulgados também mostravam que os negros representavam apenas 17,4% da parcela mais rica do país em 2014.  A desigualdade se torna gritante quando observamos o fato de que os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. Os brasileiros que se declaravam brancos eram 45,5% e mesmo assim compõem 79% dos mais ricos.

Vale destacar também que dados da mesma pesquisa apontam que a renda dos 10% mais ricos somam 45% da riqueza total, cabendo aos 90% a divisão do restante, sem esquecer que ela não ocorre de forma igual.

E as mulheres? Elas são a maioria da população brasileira e responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias, mesmo assim recebem em média 66,3% do rendimento dos homens.

Temos que entender que Políticas compensatórias não são privilégios e sim um modo de tentar nivelar para cima a condição social e econômica de grupos historicamente excluídos. Elas servem como uma forma de ultrapassar as barreiras impostas pelo racismo, preconceito, machismo e desigualdade social.

No que isso tira de direito de alguém que possui uma cor considerada honesta pela sociedade? Que possuiu condições de estudar em colégios particular que possui recursos e matricular lá seus filhos? Que está preparado para um vestibular em uma universidade pública ou tem condições de bancar uma particular de qualidade? Que possui bons contatos para conseguir um emprego após se formado ou contará com um escritório ou consultório bancado pela família?  

Mais um episódio da nossa sociedade boçal, incoerente e hipócrita!

Prof. Fábio José

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