segunda-feira, 18 de junho de 2018

Professor: de herói a vilão.


 Parte 2


   Assim como o herói heleno Odisseu enfrentou o mar de monstros e a fúria de Poseidon para poder regressar a sua Ítaca e aos braços da sua família, o professor também cumpri sua epopeia entre tantas diversidades que a vida docente lhe proporciona na terra tupiniquim.

   Seu mar de monstros é composto por baixo salário, benefícios escassos, falta de recursos pedagógicos, alunos desinteressados e/ou mal-educados, responsáveis que lhe culpam pelo baixo desempenho das suas criancinhas (mesmo quando essas já são marmanjos), fata de valorização por parte do governo, instituições particulares de ensino que o vê como uma mera peça altamente substituível, agressões nas redes sociais e propostas esdrúxulas como escola sem partido.

   No seu dia a dia de luta na rede pública o docente se depara com salas de aulas carentes de recursos ou mesmo de uma limpeza. Turmas lotadas ou com defasagem nos estudos, vítimas de uma política educacional que promove o aluno mesmo ele estando abaixo do básico e ainda nada é feito para recuperá-lo. Muitos responsáveis fazem da escola um depósito para não ter que ficar com sua responsabilidade em casa ou apenas pelo fato de que precisam de algum benefício social que exige a frequência escolar de menores de 18 anos. Há os que compensam sua falta de atenção ou dedicação na criação brigando com professores e gestores escolares, desejando mostrar seu amor dessa forma errante. Muitos se recusam a comparecerem quando solicitados devido ao baixo rendimento ou a indisciplina por saberem que serão cobrados de seus deveres ou pelo fato de que sabem que de nada irá adiantar sua presença, pois a muito não exercem mais autoridade (se é que algum dia houve alguma). Tráfico de drogas é a cada ano mais rotineiro e indiscreto, o que faz com que alguns comparecem apenas para vender enquanto outros para consumirem. A hostilidade do aluno para com seu mestre vai do deboche a agressão física, demonstrando todo o desprezo que tem por ele.

   A rede particular também é um mar de monstros além de suas fachadas. Nela habita o medo da demissão se o professor não se sujeitar aos mandos e desmandos e até a certas humilhações. Baixos salários. Limitação do seu trabalho pedagógico a fim de beneficiar algum aluno com a intenção de evitar desagradar ao cliente. Entre ele e o aluno, o segundo praticamente sempre tem razão. Mas o pior são os grupos de WhatsApp formados pelas mães, verdadeiros tribunais de exceção onde o professor é constantemente julgado e condenado sem critério algum. A partir daí se pede a demissão dele com a desculpa que “todos querem”, “todos reclamam”!  O resultado é a demissão para agradar as massas ou a limitação do trabalho profissional.

   Não é à toa que os alunos com as notas mais altas no ENEM não querem ingressar na careira do magistério. Quem quer se dedicar tanto para uma carreira pouco valorizada, tanto no mercado de trabalho como na sociedade? Apenas quem tem a coragem de Odisseu de enfrentar o mar de monstros e persistir, mesmo quando tudo conspira e ocorra para mudar seu rumo.


Prof. Fábio José de Oliveira

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