quarta-feira, 6 de junho de 2018

Somos não quem somos, somos quem idealizamos ser, os outros é quem são como somos.


A hipocrisia do cidadão de bem




   Gustavo é um típico cidadão da República Tupiniquim. Pai de família, casado pela segunda vez, graduado, trabalha, carro na garagem, plano de saúde e de internet e com conta no Facebook e no Instagram.

  Diante do espelho ele vê sua imagem refletir no aço e contempla um cidadão boa pinta, honesto, trabalhador, consciente politicamente, eticamente correto, sincero, sem vícios, religioso, intelectual, erudito e que só manda mensagens necessárias no WhatsApp.

   Quando Gustavo sai do aconchego do seu lar, ele contempla o outro, o indivíduo que junto com outros formam a sociedade na qual estamos inseridos. Aí Gustavo vê a realidade: pessoas ridículas, desonestas, vagabundas, que não sabem votar, imorais, mentirosas, cheias de vícios, ateias ou alienadas, “burras”, com péssimo gosto musical e ignorantes culturalmente que só sabem mandar besteira no WhatsApp.

   Por isso Gustavo é um típico brasileiro, é incapaz de reconhecer em si os males e os erros que vê nos outros, que corrompem a sociedade. Não se enxerga como parte de uma massa que mantem o status quo social que tanto condena.

   O brasileiro se declara honesto, mas quer conseguir vantagens sobre os demais em tudo por meio de uma ajudinha amiga ou um “suborninho” disfarçado de “agradinho”. Condena o político por ser desonesto, mas se der sonega imposto e faz gato net. Reclama do transito, mas não abre mão do seu carro para ir para qualquer lugar e acha ruim quem tem um também, mas lhe pede carona (folgado, não quer gastar gasolina! Af!). Diz ter consciência ecológica, mas usa descartáveis por serem práticos, não separa o lixo para a reciclagem e joga o lixo pela janela do carro. Condena o Funk, mas curte o ritmo, acha sexy as “minas” dançarem, canta e dança, mas apenas por “farra”, é claro! É a favor do porte de arma, mas não tem paciência nem em discutir com quem discorda da sua opinião. Torce pela morte do traficante do morro, mas fuma maconha ou cheira cocaína que o mesmo vende e se sustenta. Prega que bandido bom é bandido morto, mas não repara que quem sonega imposto também é bandido. Nega veemente que seja racista, mas conta piadas sobre negros e faz graça com quem é nordestino. Não é machista, mas considera a mulher que age como homem uma puta e que cada um tem seu lugar e tipo certo de postura na sociedade. Vê a educação como como solução para o Brasil, mas não lê livro, não auxilia os filhos nos deveres de casa e ainda briga com os professores por “persegui-los”. Condena artista, o taxa de vagabundo que só mama nas tetas do governo, mas assiste novela e curte show. Condena a TV brasileiro por só ter “putaria”, mas não deixa de assistir e vira e mexe assiste a um vídeo XXX. Não é homofóbico, mas não admite que um filho possa ser gay e considera depreciativo quem é e tem orgulho. Pede intervenção militar, mas não aceita receber ordens e não abre mão dos seus direitos. Condena quem tem uma visão política diferente, mas age da mesma forma daquele que condena, mudando apenas a posição.

   Enfim, pessoas como Gustavo é o que nega ser, é o mesmo que aquele que está do outro lado da ponta do seu dedo indicador.  Quem sabe até pior, já que quando aponto um, outros três lhe apontam.



Prof. Fábio José

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