Imaginem que fosse possível
cruzar uma vaca om um jumento e que o fruto desse enlace quadrúpede fosse um
animal que não dá leite e nem puxa carroça. Assim são algumas pessoas que,
dentro de uma tradição colonial onde os escravos eram os pés e as mãos de seu
“senhor” não possuem gosto e nem respeito pelo labor diário, desde os simples
afazeres domésticos ao ofício que garante a renumeração mensal.
Essa inútil criatura não é fruto
do acaso, é a convergência dos atos da mãe que nunca lhe permitiu fazer
atividades domésticas, nem mesmo fazer seu prato ou retirá-lo da mesa ao fim da
refeição. Do pai que lhe deu todos os bens materiais possíveis, sem haver
mérito ou motivo. É da escola que não o cobrou ou que foi complacente com as
vontades de seus pais que só querem proteger a frágil prole de qualquer
crítica. De uma sociedade que a cada dia considera tal atitude normal e prega
que cada pai e mãe tem o filho que merece, sem compreender que a vida em
sociedade é uma necessidade que exige a colaboração mutua em prol do bem comum.
Sem dúvida se trata de uma
criatura que, além de não dar leite ou puxar carroça, é incapaz de mudar. Não
quer deixar o Edem em que foi criado, o Fantástico Mundo de Bob em que vive. É
o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. Um sujeito que não faz
nenhuma questão de mudar por ter seu ego como o centro de tudo e, se algo não
está nos conformes, é este algo e não ele que está errado e deve mudar. Assim,
atribuiu aos outros a causa das dúvidas, fraquezas, incertezas e desconfianças
que tem a respeito de si mesmo.
O resultado é a pessoa que ocupa
duas vagas de estacionamento por não ter parado o carro corretamente; usa a
vaga de idoso ou deficiente por ser a mais próxima da entrada; atrapalha todo o
transito parando no meio da rua para que os filhos, saindo da escola, entrem; a
pessoa que deixa a outra esperando num compromisso por ter se atrasado por
questões fúteis; aquele que deixa o outro esperando uma resposta e nada diz
para não ter este trabalho e não se importar; aquela pessoa que deixa a bandeja
sobre a mesa na praça de alimentação do shopping; o cara que sai com o som alto
no seu carro como se os outros fossem obrigados a gostar disto; ofende o colega
numa rede social por não aceitar que ele tenha uma visão diferente; que para
tudo que discorda tem uma teoria maligna por trás; que considera que para tudo
na vida tem um jeito, mas, fica puto com aqueles que não seguem as regras.
Enfim, o resultado é uma pessoa cuja a culpa sempre é do outro.
Tal criatura híbrida usa como parâmetro
a si mesmo e suas ideias, sem se preocupar se são éticas ou coerentes, pois, o
que importa é sempre o que é melhor para si. Por isso, quanto mais o outro for
diferente, pior será, ao ponto de ser considerado uma subespécie humana. Daí o
ódio para quem não tem a sua cor, religião, sexo, gostos musicais, ideologia política,
classe social, estilo de roupa ou que não seja da mesma região ou torça para o
mesmo time. O mais engraçado é que muitas vezes ele mesmo nem faz parte do
grupo que alardeia fazer parte. Compra o Iphone em várias parcelas e anda de
ônibus; viaja para lugares famosos que estão na moda, mas, nunca frequenta museu;
se gaba de ir num show caro e reclama de pagar cover artístico no barzinho; quando
vai para o exterior se acha por andar de metrô e na terra tupiniquim tem horror
a transporte coletivo; compra um carro da alto custo e reclama do preço de cada
peça ou da mão de obra na oficina; gosta de ostentar coisas caras e vive na
dívida; é cristão e nunca leu a bíblia; é macho alpha e precisa constantemente
assediar ou agredir mulheres ou pessoas fisicamente mais fracas; humilha o
subalterno e se humilha bajulando o chefe; sonega imposto e reclama que o
brasileiro é folgado e só quer viver as custa do governo; diz ter horror a
assistencialismo e se inscreve no Fies ou no Prouni; o intelectual que não lê
livros e acredita em Fake News; o que sabe tudo e jamais pesquisa a fundo um
assunto...
Prof. Fábio José
@FiloProfessor
Nenhum comentário:
Postar um comentário