domingo, 26 de abril de 2020

NÃO PUXA CARROÇA E NEM DÁ LEITE


Imaginem que fosse possível cruzar uma vaca om um jumento e que o fruto desse enlace quadrúpede fosse um animal que não dá leite e nem puxa carroça. Assim são algumas pessoas que, dentro de uma tradição colonial onde os escravos eram os pés e as mãos de seu “senhor” não possuem gosto e nem respeito pelo labor diário, desde os simples afazeres domésticos ao ofício que garante a renumeração mensal.

Essa inútil criatura não é fruto do acaso, é a convergência dos atos da mãe que nunca lhe permitiu fazer atividades domésticas, nem mesmo fazer seu prato ou retirá-lo da mesa ao fim da refeição. Do pai que lhe deu todos os bens materiais possíveis, sem haver mérito ou motivo. É da escola que não o cobrou ou que foi complacente com as vontades de seus pais que só querem proteger a frágil prole de qualquer crítica. De uma sociedade que a cada dia considera tal atitude normal e prega que cada pai e mãe tem o filho que merece, sem compreender que a vida em sociedade é uma necessidade que exige a colaboração mutua em prol do bem comum.

Sem dúvida se trata de uma criatura que, além de não dar leite ou puxar carroça, é incapaz de mudar. Não quer deixar o Edem em que foi criado, o Fantástico Mundo de Bob em que vive. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. Um sujeito que não faz nenhuma questão de mudar por ter seu ego como o centro de tudo e, se algo não está nos conformes, é este algo e não ele que está errado e deve mudar. Assim, atribuiu aos outros a causa das dúvidas, fraquezas, incertezas e desconfianças que tem a respeito de si mesmo.

O resultado é a pessoa que ocupa duas vagas de estacionamento por não ter parado o carro corretamente; usa a vaga de idoso ou deficiente por ser a mais próxima da entrada; atrapalha todo o transito parando no meio da rua para que os filhos, saindo da escola, entrem; a pessoa que deixa a outra esperando num compromisso por ter se atrasado por questões fúteis; aquele que deixa o outro esperando uma resposta e nada diz para não ter este trabalho e não se importar; aquela pessoa que deixa a bandeja sobre a mesa na praça de alimentação do shopping; o cara que sai com o som alto no seu carro como se os outros fossem obrigados a gostar disto; ofende o colega numa rede social por não aceitar que ele tenha uma visão diferente; que para tudo que discorda tem uma teoria maligna por trás; que considera que para tudo na vida tem um jeito, mas, fica puto com aqueles que não seguem as regras. Enfim, o resultado é uma pessoa cuja a culpa sempre é do outro.

Tal criatura híbrida usa como parâmetro a si mesmo e suas ideias, sem se preocupar se são éticas ou coerentes, pois, o que importa é sempre o que é melhor para si. Por isso, quanto mais o outro for diferente, pior será, ao ponto de ser considerado uma subespécie humana. Daí o ódio para quem não tem a sua cor, religião, sexo, gostos musicais, ideologia política, classe social, estilo de roupa ou que não seja da mesma região ou torça para o mesmo time. O mais engraçado é que muitas vezes ele mesmo nem faz parte do grupo que alardeia fazer parte. Compra o Iphone em várias parcelas e anda de ônibus; viaja para lugares famosos que estão na moda, mas, nunca frequenta museu; se gaba de ir num show caro e reclama de pagar cover artístico no barzinho; quando vai para o exterior se acha por andar de metrô e na terra tupiniquim tem horror a transporte coletivo; compra um carro da alto custo e reclama do preço de cada peça ou da mão de obra na oficina; gosta de ostentar coisas caras e vive na dívida; é cristão e nunca leu a bíblia; é macho alpha e precisa constantemente assediar ou agredir mulheres ou pessoas fisicamente mais fracas; humilha o subalterno e se humilha bajulando o chefe; sonega imposto e reclama que o brasileiro é folgado e só quer viver as custa do governo; diz ter horror a assistencialismo e se inscreve no Fies ou no Prouni; o intelectual que não lê livros e acredita em Fake News; o que sabe tudo e jamais pesquisa a fundo um assunto...

Prof. Fábio José
@FiloProfessor

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